O Marília Atlético Clube (MAC) está em rota de colisão com o seu passado associativo, anunciando a transição para a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). A informação de que o clube prepara a mudança foi postada pelo presidente do MAC, Alysson Alex, no grupo de imprensa do WhatsApp no sábado (27).
A diretoria prega uma "gestão de excelência" e a consolidação de uma reestruturação que durou seis anos, culminando com o pagamento quase integral de uma dívida que superava os R$ 30 milhões e a regularização de títulos fiscais.
O anúncio do projeto SAF ganha um contexto de urgência após a Prefeitura de Marília ter cancelado, no último dia 24, o contrato de concessão da RIC Ambiental. A empresa de gestão de água e esgoto é também a patrocinadora master do MAC, com um aporte mensal de R$ 40 mil, conforme divulgado em setembro no Diário Oficial do Município.
A perda iminente desse recurso, um dos pilares financeiros do clube, pode ter acelerado a busca por investidores externos via SAF.
A principal ferramenta para o ajuste financeiro do clube foi a Recuperação Judicial, que permitiu renegociar o passivo de mais de R$ 30 milhões sob a supervisão da Justiça. O processo foi homologado pelo Poder Judiciário, sendo considerado como referência nacional e permitindo a renegociação e reestruturação das dívidas.
Atualmente, restam pouco mais de R$ 1 milhão a serem quitados, valor que a diretoria promete zerar em breve.
O desempenho administrativo e financeiro rendeu ao Marília, por dois anos consecutivos, o prêmio de segunda melhor gestão do Estado de São Paulo, garantindo salários pagos em dia, contas ajustadas e relacionamento sólido com patrocinadores e a Federação Paulista de Futebol (FPF).
Contudo, a iminente adoção do modelo SAF, em um momento onde a diretoria afirma ter a "casa em ordem" e o nome "limpo", levanta dúvidas sobre o real objetivo e as consequências dessa mudança.
O clube vive, em 2025, o sétimo ano consecutivo na Série A3 do Campeonato Paulista, a terceira divisão estadual, enquanto rivais tradicionais como Grêmio Prudente, Linense e o arquirrival Noroeste celebram ascensão para divisões superiores e demonstram estruturas mais consolidadas.
A pergunta central é: se a gestão associativa atual, que recebeu prêmios estaduais por dois anos e organizou as finanças via renegociação judicial, é tão eficiente e já quitou a maior parte do passivo, qual a urgência e a necessidade de se tornar SAF?
Resultados esportivos e o contraponto da concessão do Abreuzão
A profissionalização da gestão também teve reflexo direto no desempenho esportivo, segundo a diretoria. Nos últimos anos, o Marília chegou a duas finais da Copa Paulista, garantindo participação inédita em duas edições da Copa do Brasil. O clube obteve o acesso da "Bezinha" e se manteve competitivo na Série A3, sempre brigando pelas primeiras colocações, embora não tenha conseguido o acesso.
A profissionalização se estendeu às categorias de base MAC, com investimentos voltados ao credenciamento como Clube Formador e em negócios recentes que asseguraram percentuais de direitos econômicos de jovens atletas. O MAC também inaugurou seu primeiro time oficial de futebol feminino, que já conquistou dois títulos em competições oficiais da FPF.
Um dos pontos mais sensíveis da transição envolve o Estádio Bento de Abreu Sampaio Vidal (Abreuzão).
A mudança de Associação Sem Fins Lucrativos para Sociedade Anônima do Futebol implica que, por lei, o Marília deixa de ter a permissão de uso gratuito do Abreuzão, um benefício que existia há mais de 50 anos. Como "empresa", o MAC terá que pagar para utilizar o Abreuzão através de um modelo de concessão.
O discurso da diretoria e o futuro
A diretoria do MAC afirma que a SAF é o "caminho natural" para a sustentabilidade e para alcançar "voos ainda maiores", citando como metas a atração de investidores estratégicos e a viabilização do sonhado Centro de Treinamento.
O MAC busca transformar a estrutura já eficiente em um "modelo de negócios sustentável". A questão que permanece para a torcida, no entanto, é se a busca por "voos ainda maiores" justifica a perda da permissão de uso do Abreuzão e qual será a credibilidade administrativa de uma SAF que, em sete anos, não conseguiu levar o time da terceira divisão do Campeonato Paulista.
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